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entry Apr 21 2019, 08:17 PM
O que a desaceleração da 'locomotiva' Alemanha revela sobre a preocupante economia europeia

* por BBC News

A Alemanha, chamada de "locomotiva" da Europa, tem emitido sinais econômicos preocupantes.

Em dezembro passado, o Banco Central alemão previa um crescimento de 1,6% da economia para este ano, mas essa estimativa caiu para 1% na sexta-feira passada. E, na quarta-feira, um novo rebaixamento: o ministro da Economia, Peter Altmaier, afirmou que a expectativa é de que o país cresça apenas 0,5%, em razão de fatores como estagnação da economia global, guerras comerciais internacionais e a incerteza causada pelo Brexit, processo de saída do Reino Unido da União Europeia.

Embora nem todos os indicadores sejam negativos, a baixa na previsão do crescimento alemão é parte de uma tendência iniciada no ano passado e preocupa uma das maiores economias do mundo.

No último trimestre de 2018, o PIB (Produto Interno Bruto) alemão se contraiu 0,2% e não recuperou o crescimento no primeiro trimestre deste ano, embora tenha escapado de uma recessão.

Queda da produção industrial
Uma das razões do esfriamento está na queda da produção industrial alemã nos últimos meses, decorrente da retração da demanda - em níveis que só são superados pela retração vista em 2008, ano em que eclodiu a crise financeira europeia.

Em fevereiro, as exportações alemãs caíram 1,3% em relação ao mês anterior, segundo dados da Agência Federal de Estatísticas. Trata-se da maior queda registrada no último ano.

Embora no total as exportações tenham crescido 3,9% nos últimos 12 meses, as perspectivas de curto prazo não são vistas com otimismo.

Um estudo publicado no início de abril diz que as encomendas à Alemanha e as exportações do país estão "caindo a um ritmo não visto desde a última crise financeira global", por causa sobretudo da redução da demanda da China, que é um dos maiores clientes da Alemanha.

Por que a economia alemã é importante?
Do estado da economia alemã - que responde por 29% de toda a atividade econômica da zona do euro - depende boa parte da saúde econômica do resto da Europa.

E o impacto se estende ao resto do mundo. A Alemanha é a quarta economia global, atrás apenas de EUA, China e Japão, e o terceiro maior exportador do mundo, depois de China e EUA.

Os vínculos alemães com a América Latina também são intensos. Berlim é o quarto exportador para as principais economias latino-americanas - Brasil, Argentina, México, Colômbia e Chile.

Só para o Brasil, as exportações alemãs somam US$ 10,5 bilhões em 2018, sendo medicamentos, peças automotivas e outros manufaturados os principais produtos. Ao mesmo tempo, o Brasil exportou US$ 5,2 bilhões aos alemães no ano passado, sobretudo café, farelo de soja e minérios.

Dados positivos
Vale dizer que nem todos os indicadores econômicos alemães são negativos.

A taxa de desemprego no país, de 3,1%, segue sendo uma das mais baixas do mundo e continuou baixando mesmo enquanto o PIB não decolava.

Dentro do grupo de economias desenvolvidas, apenas Islândia, Japão e República Tcheca têm índice de desemprego menor.

Também cresceu a porcentagem da população em idade produtiva que está empregada, a um ritmo de 0,2% em cada um dos últimos trimestres de 2018.

A explicação para essa aparente contradição entre diferentes indicadores é que, embora a produção industrial esteja passando por um momento delicado, os setores de serviço e construção vivem expansão, em meio a um aquecido mercado interno.

Impactos na zona do euro
Fora das fronteiras alemãs, o freio do crescimento do país se faz sentir na zona do euro.

Alguns países - como a Espanha, entre as grandes economias do bloco - seguiram crescendo em bom ritmo, mas outros, como a Itália, vivem cenários recessivos.

A economia italiana, inclusive, não recuperou o tamanho que tinha antes da crise financeira de dez anos atrás.

E, diferentemente da Alemanha, os índices de desemprego no continente europeu oscilam muito de país para país. No conjunto da zona do euro, a taxa média é de 7,8% - relativamente elevada.

Em países como Itália, Espanha e Grécia, o desemprego chega a dois dígitos - no caso grego, chegou a 18%.

As origens da desaceleração: dos EUA ao Brexit
As razões por trás dos problemas econômicos da Alemanha e da zona do euro são diversas.

Primeiro, a recuperação depois da crise financeira de 2008 nunca foi plena.

Depois, no último ano, a região foi afetada pela má situação do comércio global. Além do esfriamento da economia chinesa, as tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre as importações americanas de aço e alumínio também tiveram impacto.

A possibilidade de que essas tarifas se apliquem também à importação de automóveis causa preocupações acerca de um efeito ainda mais profundo, sobretudo para a economia alemã.

Ao mesmo tempo, a incerteza derivada da falta de acordo em torno do Brexit - uma vez que ainda não foram definidos os termos da saída britânica da União Europeia - é outro fator mencionado pelas empresas alemãs nas pesquisas que tentam entender a diminuição da pujança econômica.

Fatores internos
O recente acordo para prorrogar o Brexit até 31 de outubro (o prazo anterior era 29 de março), por sua vez, teve um impacto positivo no humor dos investidores alemães.

O indicador chamado ZEW, que mede o estado de ânimo da economia do país, subiu até 3,1 em abril e tornou-se positivo pela primeira vez desde março de 2018.

Só que, em meio ao vaivém no contexto internacional, a economia alemã também se viu exposta a fatores conjunturais internos, como a implementação de novos testes de emissão de gases nocivos derrubou a produção e venda de automóveis no final do ano passado, em meio à dificuldade das montadoras em se ajustar às regras.

Além disso, uma das piores secas já registradas afetou os níveis de água do rio Reno, uma importante artéria comercial da indústria alemã.

As (poucas) opções do Banco Central alemão
Ante esse cenário, uma das perguntas é: o que pode fazer o Banco Central alemão para incentivar o crescimento do país e da Europa?

As opções do órgão são limitadas, e usar a política econômica como ferramenta para contrastar o esfriamento da economia pode ser complexo.

As taxas de juros do Banco Central Europeu já se encontram em níveis bastante baixos; no final do ano passado, o organismo interrompeu, depois de quatro anos, sua política de "flexibilização quantitativa", que consiste em injetar dinheiro na economia por meio da compra de títulos do Tesouro que estejam no mercado financeiro.

Retomar esse tipo política é possível, mas traz complicações. Para certos tipos de títulos, o BCE já possui praticamente a quantidade máxima que quer ter sem distorcer em excesso o funcionamento natural do mercado financeiro.

Do ponto de vista político, ao mesmo tempo, tal medida seria vista com receio, especialmente na Alemanha. Isso porque injetar dinheiro na economia pode levar ao aumento da inflação - medo que afeta os alemães em particular porque o país viveu um processo inflacionário agudo na primeira metade do século 20.


O que o governo alemão pode fazer?
Outras ferramentas para animar a economia, como a redução de impostos e o aumento dos investimentos públicos, estão nas mãos do governo alemão.

Muitos economistas argumentam que a Alemanha tem margem para colocar essas políticas em prática. Berlim gasta menos do que arrecada em impostos, mas se mostra reativo em usar suas finanças para estimular a economia.

Além disso, as recomendações mais recentes da Comissão Europeia (braço executivo da União Europeia) apontam que ainda é necessário aplicar políticas "prudentes", que assegurem a sustentabilidade das contas dos governos da UE.

Alguns críticos, porém, acham que as regras da UE sobre as contas governamentais da zona do euro são excessivamente cautelosas.

 
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