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entry Jun 23 2006, 09:44 PM
Efeitos Negativos Da Valorização Do Real

*Jose Luis Gonzalez Perez
diretor da Atlas Maritime

O fato de possuir as riquezas naturais e o tamanho continental de nossa geografia não tem sido suficiente para o Brasil se consolidar como potência econômica, já que sua economia, pedra fundamental do crescimento e consolidação de qualquer país, não tem sido gerida da melhor forma visando alcançar esse objetivo.

Apesar dos sinais positivos que a economia brasileira vem apresentando, a agenda de reformas do governo, da qual depende o potencial crescimento em longo prazo do país, foi paralisada pelo pior escândalo de corrupção do Brasil desde o impeachment e a renúncia do expresidente Collor.
Esse escândalo político trouxe como conseqüência, entre outras, que o PIB do Brasil deve crescer 2,8% em 2005, contra os 3,5% considerados como mínimo pelos analistas econômicos e políticos.

Mas com toda essa crise, parece que a economia brasileira esta imune, não tendo sido afetado o câmbio nem a inflação, que em épocas anteriores, diante de situações similares, teriam explodido. Porém, por várias razões, tal situação pode ser impossível de se sustentar, já que a valorização do Real já derrubou as exportações de calçados, têxteis e eletro-eletrônicos. Os primeiros sinais do efeito negativo do câmbio sobre as vendas externas desses setores foram sentidos ainda no primeiro semestre deste ano.

As atuais condições econômicas mundiais são as mais favoráveis ao Brasil nos últimos 50 anos, já que uma combinação de demanda chinesa por matérias-primas e necessidade dos banqueiros de investimentos por ativos de alto rendimento, assim como os juros altíssimos aprovados pelo governo, atraem o capital especulativo, deixando o país inundado de dinheiro estrangeiro; embora isso tenha causado um desastre no mercado de câmbio com a valorização excessiva do Real.

Como conseqüência dessa valorização crescente do Real, os reflexos nos custos de produção continuam a se agravar, fazendo com que os exportadores percam competitividade. Contudo, mesmo assim vemos que as exportações mantêm-se em crescimento em alguns setores da indústria ou em algumas empresas, especificamente, devido à existência de contratos de fornecimento assinados antes da queda cambial e que não podem ser quebrados sob pena de multas. Empresas que muitas vezes operam com facilidades tributárias, produtos originários de safras (soja, etc.) que não possuem um mercado interno do tamanho da produção e são obrigados a serem exportados mesmo com câmbio desfavorável e mesmo que isso venha a repercutir na próxima safra.

Diante da situação acima vemos no mercado interno uma demanda descendente (perto do zero) fazendo da exportação a base da sustentação do PIB, já que representa cerca de 20% do mesmo.

A valorização do Real diminui a remuneração do exportador, assim como também dificulta o ingresso de novas empresas no mercado externo e a expansão dos negócios de quem já vende para fora, além de ter promovido o fechamento de muitas indústrias de pequeno e médio porte, que não puderam enfrentar esse atraso cambial.

Para o País continuar percorrendo o caminho da abertura econômica iniciada alguns anos atrás e visando sua participação crescente no mercado internacional, não há outra alternativa a não ser tornar a exportação um projeto de primeiríssimo interesse nacional, com uma visão estratégica do mesmo. Porém, é necessário atualizar a legislação cambial vigente, assim como promover a revisão do sistema tributário, porque a sua exagerada carga em muitos caso torna impossível fabricar certos produtos, além de ser um freio para o crescimento econômico do País.

Enquanto isso, o governo estuda adotar medidas de proteção à indústria nacional, em função da perda de competitividade resultante da valorização do Real. O Brasil não adota medidas unilaterais para restringir importações desde 1994. Mas agora está em estudo a elevação da alíquota de importação de calçados dos atuais 20% para 35%, isto como medida para conter a importação de produtos industrializados que concorrem com a indústria nacional. Muito embora as importações tenham ficado nos últimos 12 meses, muito abaixo do esperado para uma economia que tem uma moeda tão valorizada em relação ao dólar como a brasileira, este é também o motivo do saldo tão positivo da balança comercial em forma consecutiva.

Tudo isto é conseqüência da política econômica do país de tentar conter a inflação, não visando tornar a exportação brasileira algo sustentável naturalmente. Na realidade, nenhum dos governos nas últimas décadas procurou estimular as exportações. Ao contrário, os congressistas dedicam-se às disputas político-partidárias e deixam de lado a necessária reforma tributária. Por isso o Brasil vive em recessão e não cresce, já que sua população vê diminuído seu poder de compra, e isto não permite aos empresários investir em produção. A saída para os empresários tem sido ir ao mercado exportador como tentativa de manter o nível de emprego e a produção das suas fábricas, embora em muitos casos com margens reduzidas por causa do atraso cambial.

É bom lembrar que nem todos os problemas do comércio exterior brasileiro vêm da área econômica do governo. Muitos outros e tão importantes quanto os econômicos referem-se aos endêmicos problemas de infra-estrutura na área de transportes (rodoviário, ferroviário, fluvial e marítimo). Esse aumento das exportações a níveis jamais vistos antes no país, agravou e tornou evidentes os problemas estruturais existentes relacionados aos portos assim como a toda a malha de transportes.

O país não possui hoje um único porto operando em condições ideais (de acordo a padrões internacionais do setor) e a conseqüência disso é uma sobrecarga em todos os segmentos logísticos, inclusive nos órgãos públicos relacionados ao comércio exterior.

O Brasil tem tudo para se consolidar como uma potência exportadora e ao mesmo tempo não tem nada do que necessita uma potência exportadora para se consolidar.

 
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