Bem-vindo, visitante ( Entrar | Registrar )

  Rating ---

Entries on Wednesday 10th November 2021

entry Nov 10 2021, 08:44 PM
GE vai se dividir em três empresas

* por James Fontanella-Khan | Nova York | FINANCIAL TIMES
Andrew Edgecliffe-Johnson
Ortenca Aliaj e
Adrienne Klasa | Londres

A General Electric planeja se dividir em três empresas, o que efetivamente poria fim ao seu status como o mais conhecido conglomerado industrial dos Estados Unidos, depois de anos de tentativas de correção de falhas em seu modelo expostas pela crise financeira.

A divisão em três companhias de capital aberto, com foco em saúde, energia e aviação, representaria o passo final no desmonte do grupo amplo e disperso criado por Jack Welch no final do século passado.

Também representa a medida mais ousada adotada pelo presidente-executivo da companhia, Larry Culp, em seus anos de esforço para tornar a diversificada empresa mais enxuta, diante da pressão crescente dos investidores quanto ao desempenho da companhia, considerado fraco.

As ações da GE subiram em mais de 10% em operações anteriores à abertura dos mercados, o que aponta para uma recepção positiva dos investidores à decisão, que facilitará que eles escolham que partes da empresa continuarão a apoiar.

A GE Healthcare será cindida em 2023, e a GE reterá uma participação de 19,9% na unidade. A GE Renewable Energy, GE Power e GE Digital serão combinadas em uma só companhia, cujo foco será a energia, com cisão marcada para 2024. Assim que essas transações forem concluídas, o foco da GE original passará a ser a aviação.

"Ao criar companhias de capital aberto líderes em seus setores, cada uma delas poderá se beneficiar de um foco mais estreito, de alocações de capital direcionadas e de flexibilidade estratégica, a fim de promover o crescimento em longo prazo e a criação de valor para os clientes, investidores e empregados", disse Culp.

"O dia de hoje é um momento de definição para a GE, e estamos prontos... E não pararemos por aí: nosso foco continua a ser reduzir as dívidas, melhorar nosso desempenho operacional e empregar nosso capital de maneira estratégica a fim de promover um crescimento sustentável e lucrativo", ele acrescentou.

Sob o comando de seu antigo líder, Welch, a GE se tornou a maior companhia do planeta, e recebia elogios pela eficiência de sua gestão e pelas margens de lucro firmes, o que fez dela a queridinha dos investidores dos Estados Unidos.

Mas uma sucessão de presidentes-executivos vem reestruturando a GE desde que ela esbarrou em severas dificuldades durante a crise financeira mundial iniciada em 2008, que expôs os riscos de um grupo que no passado produzia praticamente tudo, de programas de televisão a turbinas de aviação e máquinas de ultrassom.

Culp, especialmente, vem procurando reduzir o tamanho da GE a fim de controlar a dívida da empresa. Este ano, a companhia vendeu sua divisão de leasing de aviões à AerCap, da Irlanda, em uma transação de US$ 30 bilhões (R$ 165 bilhões, na cotação atual). Antes dele, Jeff Immelt e John Flannery venderam grandes porções do grupo, entre as quais a GE Capital, subsidiária que administrava os ativos imobiliários e as operações de seguros da companhia.

A GE anunciou nesta terça-feira (9) que as mudanças surgem com base em uma posição financeira fortalecida, o que inclui uma redução de mais de US$ 75 bilhões (R$ 412 bilhões) em sua dívida bruta entre 2018 e 2021. Todas as três novas empresas teriam seus títulos de dívida classificados como papéis de investimento, disse o grupo.

A GE já vinha limando ativos há mais de uma década quando Culp se tornou seu presidente-executivo, em 2018, mas ele acelerou o ritmo do enxugamento, especialmente o da problemática divisão GE Capital, no passado a peça dominante do grupo.

Durante a crise financeira, a pressão sobre sua divisão de serviços financeiros levou a GE a procurar socorro por parte de Warren Buffett. A experiência levou Immelt, sucessor de Welch e então líder da companhia, a afirmar que conglomerados funcionam bem até que os mercados passem por uma virada, quando sua complexidade se torna um ponto negativo.

"Por mais de um século, as pessoas da GM vêm fazendo coisas ótimas, e tenho certeza de que continuarão a fazê-lo no futuro", disse Immelt ao Financial Times na terça-feira. "Desejo a todos na GE o maior sucesso."

O fundo de hedge ativista Trian Partners montou uma participação acionária de US$ 2,5 bilhões (R$ 13,7 bilhões) na GE, em 2015, o que fazia da companhia o seu maior investimento naquele momento, e Ed Garden, seu vice-presidente de investimento, se tornou parte do conselho da GE em outubro de 2017.

O fundo ativista, que pressionava por reduções de custos e captação ampliada a fim de ajudar a bancar recompras de ações, previa na época que as ações da GE chegariam ao preço de US$ 45 (R$ 247). Mas o desempenho da GE ficou bem aquém das metas estabelecidas pelo Trian e, no começo de 2018, o valor de sua participação acionária havia caído em mais de 50%. O fundo começou a reduzir sua posição um ano mais tarde e agora detém pouco mais de US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões) em ações.

Nelson Peltz, o bilionário fundador do Trian Partners, chegou a declarar que manter a grande participação de sua empresa na GE havia sido "um grande erro".

O Trian afirmou em declaração na terça-feira que "apoiamos entusiasticamente esse passo importante na transformação da GE".

"O raciocínio estratégico é claro: três empresas de capital aberto bem capitalizadas e líderes em seus setores, cada qual com um foco operacional mais profundo e maior prestação de contas, mais flexibilidade estratégica e decisões de alocação de capital mais direcionadas. Saudamos os esforços de Larry Culp, o presidente-executivo da GE, e de sua equipe para criar valor em longo prazo para os acionistas."