Toyama, no Japão, é modelo de desenvolvimento de cidade compacta

* por Claudio Bernardes | Folha de São Paulo

Toyama, como muitas cidades do mundo, enfrentou problemas com a expansão urbana e as posteriores mudanças demográficas. A cidade, que no ano de 1999 tinha 420 mil habitantes, teve sua população reduzida para 412 mil habitantes na atualidade.

A densidade populacional das mais baixas dentre as capitais das províncias do Japão e a dependência excessiva de automóveis levaram à deterioração dos serviços de transporte público, e as áreas centrais da cidade perderam sua vitalidade por causa do desenvolvimento suburbano. Efeitos típicos também em muitas outras cidades do mundo.

Em resposta a esses desafios, a cidade de Toyama adotou uma abordagem mais integrada para o planejamento urbano e o transporte. Hoje, a cidade é amplamente reconhecida como modelo para o desenvolvimento de cidades compactas.

Ao estabelecer a meta de se tornar uma cidade compacta, ela investiu em duas ações prioritárias: atrair pessoas e empresas para se localizarem ao longo de eixos de transporte, impulsionados por um novo e audacioso projeto de veículos leves sobre trilhos (VLT), e a revitalização da área central da cidade, que foi estruturada em três etapas.

A primeira etapa, iniciada em 2007, previu a estruturação da área central a partir de um núcleo urbano denso e uma série de hubs secundários interconectados por transporte público, promovendo, dessa forma, a transformação física da região. Essa transformação incluiu a implantação do projeto de VLT, a criação de hubs com infraestrutura necessária para torná-los vibrantes e atrativos, e a produção e o estímulo à habitação, com reforma e remodelação de edifícios, projetos de redesenvolvimento urbano e infraestrutura para melhoria da qualidade de vida.

A segunda etapa do plano de revitalização, que se iniciou em 2012, teve como objetivo melhorar a qualidade do espaço urbano. A cidade aumentou os investimentos públicos em áreas urbanas e em projetos de renovação para atrair investimento privado. Além de desenvolver ativos físicos no centro da cidade, Toyama também fez parceria com o setor privado, organizações sem fins lucrativos, universidades e comunidades locais para desenvolver e acumular capital social.

Especificamente, a segunda etapa do plano foi estruturada sobre três pilares: criar movimento e vibração no centro da cidade, fornecendo mobilidade de alta qualidade, com múltiplas opções; cultivar uma nova cultura "Toyama" no centro da cidade, com projetos de requalificação urbana, retrofit de prédios históricos e impulsionamento do desenvolvimento comercial; oferecer estilos diversificados de vida urbana e de alta qualidade no centro da cidade, com projetos inovadores de equipamentos públicos para o desenvolvimento comunitário, e a atualização da paisagem urbana.

A terceira etapa, que iniciou em abril de 2017 e está em andamento, deve durar até março de 2022. Nesta fase, a cidade visa melhorar ainda mais a qualidade de vida no centro da cidade, trazendo instalações públicas de volta a área central, melhorando os serviços de saúde e bem-estar e fortalecendo as parcerias com o setor privado, organizações sem fins lucrativos, academia e comunidades locais. Além disso, a cidade continua a melhorar a mobilidade para os cidadãos por meio das linhas de VLT, espinha dorsal do desenvolvimento da cidade compacta, cujo projeto foi concluído em março de 2020.

A ampla gama de benefícios de uma cidade compacta foi traduzida pela redução expressiva do congestionamento de tráfego e emissões de CO2, além de impactos positivos no comportamento dos cidadãos, em especial os mais idosos, que passaram a se movimentar mais pela cidade. As viagens urbanas relacionadas a esse grupo etário cresceram quase 250%.

Os resultados do programa implantado mostram que o modelo compacto de cidade associado ao VLT desencadeou uma mudança nos modais de transporte, diminuindo o uso de carros e ônibus, e encorajando os cidadãos a adotar um estilo de vida mais ativo.

Casos como o de Toyama devem servir de exemplo para cidades que passam por problemas semelhantes, e fazer com que essa experiência possa inspirá-las a produzir planos específicos para tornar suas cidades compactas, eficientes e ambientalmente equilibradas.