Bem-vindo, visitante ( Entrar | Registrar )

  Rating ---

Entries on Saturday 15th December 2018

entry Dec 15 2018, 08:17 PM
Desaceleração forte da China cria desafio para Xi Jinping

* por The New York Times | Dongguan | China

Consumidores e empresas da China estão perdendo a confiança. As vendas de carros despencaram. O mercado da habitação está tropeçando. Algumas fábricas estão antecipando a licença para o feriado do Ano-Novo lunar em dois meses.

A economia da China desacelerou acentuadamente nos dois últimos meses e talvez esteja oferecendo o maior desafio já encontrado pelo líder do país, Xi Jinping, em seis anos de governo.

Em casa, ele enfrenta escolhas difíceis que podem reanimar o crescimento mas agravar os problemas do país em longo prazo, como endividamento. No cenário mundial, ele se viu forçado a fazer concessões aos Estados Unidos com a intensificação da guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump.

Determinar o quanto isso pode prejudicá-lo vai depender de que trabalhadores chineses como Yu Hong mantenham empregos. Há alguns dias, Yu, 46, estava embarcando no trem para sua província de origem, Hubei, no centro da China, para quase três meses de licença não remunerada. A fábrica de lâmpadas em que trabalha em Dongguan reduziu drasticamente sua jornada de trabalho e seu pagamento.

"Todo o ambiente mudou", disse Yu. "Para trabalhadores migrantes como nós, o que importa é ganhar mais dinheiro."

Avaliar a magnitude da desaceleração é difícil, dada a baixa confiabilidade das estatísticas econômicas chinesas. Mas existem sinais de que os problemas estão se agravando.

Nesta sexta (14), a China anunciou crescimento surpreendentemente fraco nas vendas do varejo --menor ritmo em 15 anos-- e na produção industrial --o mais fraco em três anos, em novembro.

Muitos economistas dizem que a desaceleração é a pior desde a crise financeira mundial de uma década atrás, quando Pequim injetou trilhões de dólares na economia para impedir que o crescimento saísse dos trilhos.

"Xi Jinping comparou a China a um oceano que nenhuma tempestade pode abalar, mas a tempestade que surgiu agora é a maior" em muitos anos, disse Diana Choyleva, economista-chefe da Enodo Economics. Ela estima que o crescimento chinês tenha caído ainda mais que durante a crise.

Desde que a China iniciou seu processo de adesão à OMC (Organização Mundial do Comércio) e sediou a Olimpíada de 2008, não precisou recorrer à assistência de Washington ou de outras grandes capitais mundiais. Por muito tempo uma fonte de crescimento e uma influência estabilizadora durante a crise, a China se acostumou a negociar de uma posição de força.

Embora a guerra comercial com os EUA ofereça um bode expiatório cômodo, a culpa por qualquer desaceleração econômica prolongada recairia sobre ele.

Xi agora tem de lidar também com um ato de equilibrismo diplomático. As autoridades chinesas detiveram dois cidadãos canadenses, em aparente retaliação pela detenção de uma importante executiva chinesa de telecomunicações no Canadá, a pedido do governo americano. Mas a China adotou tom mais brando com Trump quanto à detenção e acusações separadas de hacking, porque uma escalada forte da guerra comercial poderia prejudicar o país.

Trump já está se sentindo em vantagem.

"A economia da China, se estiver com problemas, está com problemas só por minha causa", disse a Fox News na quinta (13), mencionando as tarifas impostas por seu governo.

A desaceleração começou antes da imposição de tarifas, mas elas prejudicaram a confiança de consumidores e empresas, e provavelmente incomodarão ainda mais.

Graças ao controle firme do governo sobre setores importantes, especialmente o financeiro, as autoridades têm mais botões a apertar do que praticamente qualquer outro país, em caso de desaceleração.

Os esforços de Pequim no segundo trimestre para reduzir a dependência das empresas chinesas quanto a empréstimos, uma grande causa da desaceleração econômica, estão sendo revertidos agora.

As autoridades regulatórias também ordenaram que os bancos façam mais empréstimos a empresas privadas. Ministros prometeram compensar as empresas que não demitam trabalhadores. Os controles ambientais estão sendo aplicados com menos severidade, o que facilita manter abertas as fábricas poluentes.

Economistas acreditam que o crescimento vá melhorar, pela metade do ano que vem. E a China até o momento parece ter evitado grandes cortes de emprego como os vistos durante a crise financeira.

Mas, abaixo da superfície, uma desaceleração forte está ganhando impulso. O investimento estrangeiro despencou, no mês passado. As vendas de automóveis caíram de forma recorde nos últimos três meses. A área residencial total construída, um indicador da saúde do mercado de habitação, despencou neste ano. E a confiança está em baixa entre os executivos de compras chineses.